Helmut Newton "Mestre" da Fotografia de Moda
Newton é um dos fotógrafos mais conhecidos do mundo, principalmente nos seus trabalhos desenvolvidos para a Vogue, com a introdução do erótico e do nú integral.
Helmut Newton clicando uma modelo nua,
sob a vigilância da esposa June. Place du Palais Bourbon,em Paris. |
Nascido em Berlim em 31 de Outubro de 1920, mas com nacionalidade australiana, Helmut Newton era filho de um fabricante de botões e durante a sua juventude, seus maiores interesses eram mulheres, natação e fotografia. Por sua conduta boêmia, foi expulso da Escola Americana em Berlim, lugar para onde seu pai o tinha enviado na esperança de Helmut se esquecer da ideia de ser fotógrafo.
Em 1936 começou a aprender com a fotógrafa Yva – Else Simon, que acabaria por morrer em Auschwitz. Depois de dois anos de aprendizagem deixou Berlim com destino à Singapura, onde arranjou trabalho como fotógrafo e jornalista no “Singapore Straits Times”. Duas semanas depois já estava fora do jornal afastado por incompetência…
Linda Evangelista - Foto Helmut Newton
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Em 1940 foi para a Austrália, e lá, serviu por 5 anos no exército – participou inclusive da II Guerra Mundial. Quando terminou o seu tempo no exército, foi para Melbourne e abriu um pequeno estúdio de fotografia. Oito anos depois, casava com a atriz June Brunell que sempre foi uma influência e inspiração na sua carreira.
Depois disso foi para Paris, passando colaborar para a Vogue francesa – que acabou por mostrar e divulgar as suas fotos de moda mais importantes.
A consequência disso fora trabalhos para Elle, Queen, Stern, Playboy e muitas outras. Helmut preferia o exterior para os temas das suas fotografias. Os temas da vida que passavam pelos jornais era uma fonte de inspiração.
Seus conceitos fotográficos chocavam e maravilhavam as pessoas. o que fez com que ficasse cada vez mais famoso. Fotografou modelos, atrizes, atores e muitas outras personalidades tanto da sociedade quanto da cultura e da política.
A partir dos anos 80, passou a morar em Montecarlo. Anos mais tarde, ganhou o “Grand Prix National” de fotografia e em 1992 recebeu um prémio do governo alemão.
A princesa Carolina do Mônaco lhe presenteou, em nome do seu principado, com a “Chevalier des Arts, Lettres et Sciences”. 1996 foi a vez do Ministério da Cultura Francês lhe atribuir o “Commandeur de l’Ordre des Arts et des Lettres”. Uma carreira cheia de sucessos e de fama.
Helmut Newton
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Helmut Newton morreu no dia 23 de Janeiro de 2004 num acidente de avião em Los Angeles, mas a sua obra ficará para sempre imortal através da arte que desenvolveu ao longo dos seus 83 anos de vida.
Mulheres amarradas, mulheres usando selas de cavalos, mulheres totalmente nuas, exceto por seus sapatos de salto. Mulheres, mulheres, mulheres: o trabalho do fotógrafo alemão naturalizado australiano Helmut Newton é caracterizado pela onipresença feminina, sempre poderosa, ainda que em situações de submissão. Mesmo com marcas, rugas e cicatrizes, suas imagens mostram sempre modelos absolutamente perfeitas e para muitos, uma de suas maiores contribuições para a Fotografia de Moda foi ter ajudado a descobrir novos tipos de beleza feminina.
Sua capacidade de utilizar de forma elegante temas sexuais explícitos influenciou decisivamente a Fotografia de Moda dos anos 1960, e seu trabalho segue como uma forte referência até os dias de hoje. Ironicamente, mesmo que atacado por representantes do feminismo, ele também ajudou a consolidar a imagem da mulher como o “sexo forte”. Suas modelos são poderosas e seguras, têm pleno controle de sua sexualidade e de qualquer situação, mesmo aquelas criadas por ele, geralmente mergulhadas em jogos de poder, em fetichismo e sadomasoquismo.
No Helmut Newton Institute, sediado em Berlin, uma série de mensagens escritas por ele destinadas a diferentes gerações de editores de moda são expostas, sempre com o seguinte conteúdo: obrigada por ter tido coragem de publicar minhas fotos.
“A fotografia de algumas pessoas é arte, mas não a minha. Arte é uma palavra suja na fotografia"
Nas imagens de Newton, as mulheres se encontram majoritariamente em situações precárias ou em atos eróticos, mas a natureza das fotos depende da interpretação de quem as observa. Um cenário comum utilizado por ele são quartos de hotel, o que muitos interpretam como retratos de relacionamentos entre desconhecidos. Outra visão usual é que, nessas imagens, Newton busca retratar o tumulto interno vivido pelas mulheres por conta dos valores da sociedade da época.
Enquanto, em 1960, sua cota de participação em um mundo de homens crescia, a identidade feminina tradicional não era sacrificada, uma dualidade que Helmut expressava com imagens repletas de poder e submissão, envoltos em uma aura de sensualidade.
Mas o que eleva as fotografias de Newton, em sua maioria realizadas comercialmente, ao status de arte? O colunista do The Guardian Adrian Searle levantou essa questão em um artigo publicado no jornal inglês em 2001, três anos antes da morte do fotógrafo.
“Após três décadas de polêmica feminista, Newton não passou dos limites? Por que suas imagens ainda são tão populares? Por que suas fotografias são arte se tudo o que ele fez foi comercial, era parte da indústria da moda?”, introduz.
Ao longo do texto, o autor conclui que o mérito de Newton está no fato de que suas representações dramáticas, sejam elas de modelos despidas ou vestidas, provocaram muito mais do que frisson: mexeram com tabus, com sexo e poder, com a complexa relação entre fotógrafo e modelo, imagem e espectador. Quando entrevistado, ele admitia sem constrangimento ser um voyeur, uma característica que, para muitos, está intrínseca na fotografia.
Muitos identificam em suas imagens qualidades usualmente encontradas na Fotografia Policial e no Fotojornalismo: luzes duras, flash forte, destaque no objeto central e escurecimento dos detalhes menos relevantes. A diferença fundamental é que os assuntos de Newton não se mostravam surpresos ao serem fotografados, pelo contrário.
A consagração de sua estética fez dele, também, prolífico na fotografia de retratos. Passaram por suas lentes personalidades do cinema, do teatro e do mundo das artes, especialmente a partir dos anos 1980, quando ele colhia os frutos de seu sucesso no mundo fashion. Famosos queriam ser retratados por Helmut justamente pela carga sedutora e emocional de suas imagens.
Foi aos 75 anos que ele abandonou quase que por completo os cliques de cenários decadentes com modelos milionárias, pois alegava já ter fotografado nus o suficiente para mais de uma vida inteira. Em suas palavras, não tinha mais contribuição alguma para seu antigo principal assunto:
“É apenas pele demais, não sobraram ideias”, afirmou, em entrevista. “Meu trabalho como um fotógrafo de retratos é seduzir, encantar e entreter”.
Sua primeira exibição solo foi em 1975, na Nikon Gallery, em Paris. Um ano depois, seu primeiro livro de fotografias foi publicado, White Women. Em 1990, ganhou o prêmio francês “Grand Prix National de lá Photographie”. Depois de sua morte, suas cinzas foram jogadas na capital da qual fugiu na adolescência, Berlim, o mesmo local em que é sediada a Helmut Newton Institution.
Jude Newton - Foto Alice Springs
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Repleta de obras e objetos pessoais do fotógrafo, o que inclui uma reprodução de seu quarto e fotografias e vídeos pessoais, o local foi fundado e é mantido por June Newton. Ao entrar no prédio, que, por sinal, trata-se do Museu da Fotografia de Berlim, a primeira coisa a ser vista são as gigantescas imagens de seu mais famoso ensaio de nus, Big Nudes, realizado em Los Angeles.
Para Zdenek Felix, curador do livro The Best of Helmut Newton (Schirmer art books on art, photography & erotics), a genialidade do fotógrafo está no fato de que ele não se cegou pelo glamour e pela máscara de pretensão que prevaleciam no mundo em que ele trabalhava e vivia. Pelo contrário, iluminou esse mundo com luzes fortes que resultaram em imagens brilhantes. Para Felix, ao contrário da maioria das fotografias de moda, as fotos registradas por Newton contém muito mais do que mostram.
Fotos: Helmut Newton
Fonte: Instituto Helmut Newton
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