José Medeiros na Redação da Revista Cruzeiro
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Quando pensamos na consolidação da fotografia editorial no Brasil, impossível não lembrarmos da produção de José Medeiros, fotógrafo nordestino que poderíamos chamar de um dos pais do fotojornalismo brasileiro. José Medeiros (1921-1990), nascido em Teresina (PI), apaixonou-se pela fotografia aos 12 anos de idade e aos 25, já integrava a equipe da revista O Cruzeiro, onde fez história.Medeiros brilhou entre as décadas de 1940 e 1950.
Era ágil, tinha alma de repórter e seu olhar diferenciado carregava um repertório rico em referências. Assinava várias revistas estrangeiras de fotografia e acompanhava as Life e Paris Match, as grandes publicações em fotoreportagens da época. As imagens de Medeiros mesclavam o instantâneo do fotojornalismo e a imagem rebuscada através do enquadramento e composição. Sempre revolucionário, Medeiros achava a câmara utilizada pela revista O Cruzeiro, uma Rolleiflex de filme médio formato, sem agilidade para as suas pautas. Assim, escondido da chefia, usava uma Leica com filmes de 35 mm e entregava as ampliações no formato quadrado da Rolleiflex. Medeiros está sendo homenageado na França com duas grandes exposições que fazem um panorama de sua trajetória.
Na Maison de l’Amérique Latine, em Paris, 160 fotografias estão na exposição José Medeiros – Chroniques brésiliennes. No início de outubro, também em Paris, abre a mostra Candomblé na Maison Européenne de la Photographie. As fotografias das duas exposições estão reunidas no livro Chroniques brésiliennes, publicado pela importanta editora francesa Hazan em parceria com o Instituto Moreira Salles (IMS), local que guarda todo o acervo de José Medeiros. Neste post, mostramos algumas fotografias que estão na exposição Chroniques brésiliennes e três fotos da mais importante, e talvez polêmica, reportagem de Medeiros. Em 15 de setembro de 1951, Medeiros publicou na O Cruzeiro uma história sobre os rituais em terreiros de candomblé em Salvador com imagens de cerimônias secretas.
A matéria “As noivas dos deuses sanguinários” foi a resposta ao furo que a francesa Paris Match deu semanas antes com a reportagem “Les possédée de Bahia”, também feita sobre rituais. Há sessenta anos atrás, tudo isso foi motivo de muita polêmica e repercussão entre estudiosos, antropólogos e o do candomblé baiano. Para a fotografia brasileira, ficou um dos mais ricos documentários fotográficos e motivo de estudos jornalísticos e acadêmicos. Em 1957, o ensaio foi publicado em livro e reeditado em 2009. No mesmo ano, o antropólogo Fernando de Tacca publicou a pesquisa Imagens do Sagrado, resgatando toda a história da ida de José Medeiros a Salvador para fazer essa reportagem histórica.
Confira mais algumas fotos de José Medeiros:
Baile de máscaras na boate Casablanca, 1946, Rio de Janeiro.
(José Medeiros/Acervo Instituto Moreira Salles)
Baile de máscaras na boate Casablanca, 1946, Rio de Janeiro.
(José Medeiros/Acervo Instituto Moreira Salles)
Baile de carnaval no Teatro Municipal, Rio de Janeiro, 1950.
(José Medeiros/Acervo Instituto Moreira Salles)
Baile de artistas no Hotel Glória, década de 1950, Rio de Janeiro.
(José Medeiros/Acervo Instituto Moreira Salles)
Teatro São Caetano, Rio de Janeiro, 1950.
(José Medeiros/Acervo Instituto Moreira Salles) .
Entrevista de candidata a miss, década de 1950, Rio de Janeiro.
(José Medeiros/Acervo Instituto Moreira Salles)
Apresentação musical durante batismo de avião; ao fundo, os músicos Pixinguinha,
ao saxofone, e Benedito Lacerda, à flauta, Rio de Janeiro, 1949.
(José Medeiros/Acervo Instituto Moreira Salles)
Chegada dos pracinhas da Força Expedicionária Brasileira, vindos da Europa, 1946, Rio de Janeiro. (José Medeiros/Acervo Instituto Moreira Salles)
Índio yawalapiti, 1949, Serra do Roncador, Mato Grosso.
(José Medeiros/Acervo Instituto Moreira Salles)
A pedra da Gávea, o morro Dois Irmãos e as praias de Ipanema e Leblon, Rio de Janeiro, 1952.
(José Medeiros/Acervo Instituto Moreira Salles)
“Laôs” aguardando na camarinha o início da cerimônia das incisões, 1951, Salvador.
(José Medeiros/Acervo Instituto Moreira Salles)
Auxiliada pelas “ekedi” (sacerdotisas que atendem às necessidades dos orixás) na “camarinha” (pequeno quarto), a noviça passa pelo ritual de iniciação das filhas-de-santo, 1951. (JoséMedeiros/Acervo Instituto Moreira Salles)
Noviça pintada com pontos brancos de acordo com as características de seu orixá, 1951, Salvador. (José Medeiros/Acervo Instituto Moreira Salles)
Livros recomendados: Candomblé (IMS, 2009, 112 pg.)
Imagens do Sagrado (IMESP, 2009, 200 pg.)
Créditos das Fotos - José Medeiros
Fontes: