Otto Stupakoff por Bob Wolfenson
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A IMPORTÂNCIA DE SER OTTO STUPAKOFF
Fonte: Fotosite
O nome de barão foi herdado do avô russo. Contudo, Otto Stupakoff brincou mesmo nas ruas de São Paulo, no antigo Tatuapé, um bairro muito diferente dos dias de hoje. Adolescente, foi aprender fotografia em Pasadena, próximo a Los Angeles, nos Estados Unidos, onde ficou sabendo mais sobre arte do que como se revela um filme. Ficou famoso no Brasil e depois no cenário internacional, da então fervilhante “fashion photography” das décadas de 50 à 70, quando ganhou e perdeu muito dinheiro. Na Europa e Estados Unidos, era a época de Helmut Newton (1920-2004), David Bailey, Frank Horvat, Arthur Elgort, e reinando absolutos, Richard Avedon (1923-2004) e Irving Penn.
Foto Otto Stupakoff
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Stupakoff não fez feio. Pelo contrário, brilhou muito e tornou-se amigo de alguns destes ícones, com quem mantém contato até hoje, passadas longas décadas e muitas reviravoltas na sua vida profissional e pessoal.
Foto Otto Stupakoff
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Foto Otto Stupakoff
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Vamos deixar de lado o sucesso brasileiro e internacional daqueles anos, onde foi mais que celebrado e caminhar para os dias atuais, quando o fotógrafo vive seus 71 anos e merecidamente retoma seu reconhecimento abaixo do trópico com esta bela publicação. É uma celebração justa, ainda que tardia. Depois de brilhar em revistas como Vogue e Harper’s Bazaar, por algumas décadas foi ignorado pelo editorial brasileiro.
Foto Otto Stupakoff
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Capa do livro Sim, ignorado por editores caipiras, os mesmos que ainda hoje adoram jogar confetes em fotógrafos internacionais que nem conhecem, que adoram dizer que viajam a Nova York, gabando-se de intimidades que não desfrutam, posando de grande personalidade, quando no fundo eram e continuam tacanhos.
Mas, distante do glamour que só viria alguns anos depois, na prática, de volta ao primeiro mundo, para não passar fome, Stupakoff deu aulas de fotografia na Parson School Design, de Nova York, em 1967. Ficou ensinando por um ano e martelando seu bordão: "Não vejam livros de fotografia! Fotógrafo deve ler muito. Ir muito ao cinema, ver pinturas e escutar muita música. Tudo menos livros de foto".
Se ele estava certo? Talvez. Ainda que paradoxalmente, é o que ele vem produzindo nestes últimos anos, com Rio Erótico (Aperture, 2006) e agora com esta sua pequena antologia, pela editora Cosac Naify.
O lançamento no Rio de Janeiro pode parecer uma maneira de dar o troco aos paulistas, embora o reconhecimento do fotógrafo tenha sido iniciado lá. Nesta necessária retrospectiva, para quem quer rememorar imagens ou para quem quer conhecer a obra deste grande mestre, estão fotografias de moda, retratos de celebridades, snapshots, retratos de familiares, num resumo de 50 anos de estrada com uma câmera na mão. A obra surge com fotografias tratadas com seu único jeito de ser, além de uma importante entrevista com declarações igualmente únicas, que com o tempo, ele modifica aqui e ali. Segundo ele, é sua a primeira imagem de moda genuinamente brasileira. A modelo Duda Cavalcanti, uma top da época, que vestia um modelo do estilista paraense Dener Pamplona de Abreu, o famoso "Dener" (1937-1978). Na sua memória, a locação: O terraço da casa do pintor carioca Heitor dos Prazeres (1988-1966), no Rio de Janeiro, lá pelo distante ano de 1955.
Foto Otto Stupakoff
Entende-se a sugestão de não ver livros de fotografia. Hoje, como naquela época, se copia mais do que se cria. Basta entrar em qualquer redação de revista de moda para se ver as tais “referências” penduradas na parede. Tais “sugestões” não poupam nem mesmo consagrados fotógrafos, infelizmente.
Contudo, percebe-se que conhecer livros de fotografia é fundamental na formação de um “vocabulário” fotográfico autêntico. Até porque, não faria sentido este texto ser escrito, se assim não o fosse. Nem mesmo ele publicar o dele, que através não só de imagens, mas de sua vasta cultura sobre arte e fotografia, transmite sua obra exemplar aos incautos que por ventura a desconhecem. Stupakoff não é apenas um grande fotógrafo.
Assim como outros poucos, também é responsável pela formação intelectual de muitos profissionais. Entre seus aforismos e parábolas, recomenda que o ideal é seguir o caminho mais difícil: “Ao entrar numa floresta, escolha o rumo mais escuro! Sem indicação, aquele mais difícil! Se você for talentoso, encontrará uma pérola, no lugar do dragão!". Ou melhor, aquela originalidade tão procurada. Difícil mesmo, quando a maioria dos fotógrafos de hoje prefere o mais fácil, aquele impensado, simplesmente copiado. Pode-se abrir qualquer revista importante de moda brasileira e não perceber a mudança de créditos das imagens. Numa referência mais recente, Stupakoff cita, em entrevista, seus últimos alunos que deixam a sala de aula, antes do término. Um dos inúmeros absurdos que aprendeu a suportar.
Por Otto Stupakoff
Muito do mito Stupakoff se deve a uma brasileira. Lá pelo início dos anos 70 Stupakoff conheceu Beatriz Feitler (1938-1982)*, diretora de arte da Bazaar, onde ele produziu ensaios mensais por cinco anos. “Ela foi a melhor diretora de arte com quem trabalhei”. Naquela época as revistas eram muito, mas muito diferentes do que são hoje: “O fotógrafo escolhia a moda. Aprovava os detalhes antes, para só depois ir para a direção de arte. A edição de moda só via o trabalho pronto”. Pode parecer inverossímil para quem fotografa hoje. Mas ele garante que era verdade!
Para o fotógrafo o momento da foto é sagrado. “Só modelo e fotógrafo podem compartilhar! Imagine hoje: A tal produtora de moda, quer segurar no tripé, olhar na câmera, ver o polaroid. Parece representante do diretor de arte!”. Podemos estender o raciocínio para a mania recente de querer olhar no visor da câmera digital. Nada mais chato e insuportável!
Para provar seu ponto de vista sobre o momento criativo único do fotógrafo, diz na entrevista que, se não fosse assim, os assistentes seriam bons fotógrafos. O que, segundo ele, quase nunca acontece. Provavelmente, está certo, contando as raras exceções, que sabemos existir. É só pegar o exemplo do Hiro, que como citado por Stupakkof, foi assistente de Richard Avedon e há muito tempo é um dos grandes da fotografia internacional. Idiossincrasias de Stupakoff? Sem dúvida, ele pode!
Este respeito ao criador pode ser entendido também nas palavras de outro grande profissional com experiência internacional, o catalão J.R.Duran, quando ele fala que, mais que um diretor de arte, o que importa numa revista é um diretor de criação, algo inexistente nas revistas brasileiras. Para Duran, Stupakoff "é um maestro, maestro da fotografia, da elegância e do "savoir vivre". Duran, entre raros fotógrafos autorais do meio, é de uma geração adiante que soube aproveitar o caminho aberto pelo brasileiro.
A “importância de ser Otto Stupakoff” - parafraseando Wilde - é reconhecida por outros grandes profissionais: "Qualquer fotógrafo que sobreviva mais de quarenta anos na profissão, além de ter que ser um gênio, é um herói!", diz o fotógrafo carioca Claudio Edinger, outro profissional de larga experiência no exterior, que acabou de lançar sua exemplar antologia.
Para o paulista Cristiano Mascaro, cronista maior da cidade de São Paulo, "Otto, assim como outros fotógrafos talentosos, me indicaram um caminho e fizeram com que eu tivesse certeza de que valia a pena dedicar-me à nobre profissão". Em dias de egocentrismos descarados e de narcisismos explícitos são declarações que iluminam ainda mais uma verdadeira estrela.
No livro, ainda que uma pequeníssima reverência ao grande talento e pioneirismo de Stupakoff, estão imagens de referência, como as banhistas em Baden-Baden, o retrato do dramaturgo Harold Pinter ao lado de Vivian Merchant, a belíssima gravadora Maria Bonomi e um genial portrait do roteirista Tom Stoppard.
Há também um jovem Tom Jobim, um aristocrático retrato do artista plástico Wesley Duke Lee, a quem o fotógrafo credita sua afeição pela arte, o presidente americano Richard Nixon com a filha Julie e o escritor Truman Capote, estes dois últimos vertidos da cor original para o preto-e-branco do livro. Fotografias, entre tantas outras, que fazem valer a pena uma longa pausa, respirar fundo, e… começar tudo de novo!
A brasileira Beatriz Feitler, além de cuidar da arte da famosa Harper’s Bazaar, foi diretora de arte da Rolling Stone onde redesenhou a revista por três vezes. O antológico volume do décimo aniversário da revista , de 1977, foi preparado por ela, que trouxe um ensaio fenomenal de Annie Leibovitz. Seu último trabalho foi reformular a revista Vanity Fair , cujo primeiro volume saiu um ano após sua prematura morte.
Fonte: Fotosite / Google
Informações Livro Otto Stupakoff /Imagens de Otto Stupakoff
Organização Rubens Fernandes Junior / Entrevista para Alvaro Machado, Augusto Massi e Rubens Fernandes Junior /Textos de Bob Wolfenson, Fernando Lazlo, Hélio Hara, Mario Cohen, Paulo Borges , Rubens Fernandes Junior e Otto Stupakoff
Editora Cosac & Naify / ISBN 85-7503-404-9 / www.cosacnaify.com.br
Organização Rubens Fernandes Junior / Entrevista para Alvaro Machado, Augusto Massi e Rubens Fernandes Junior /Textos de Bob Wolfenson, Fernando Lazlo, Hélio Hara, Mario Cohen, Paulo Borges , Rubens Fernandes Junior e Otto Stupakoff
Editora Cosac & Naify / ISBN 85-7503-404-9 / www.cosacnaify.com.br